segunda-feira, 8 de dezembro de 2008

Tudo ou nada

Eu acho que desacreditei. Desaprendi. Não há esperança, é tudo cinza. Por mais que eu continue tentando, não sei se valerá à pena. Parte de mim se rendeu a não te amar mais, outra ainda pensa que talvez isso possa mudar. Tudo que passamos e pensamos juntos desmoronou. Despedaçou-se. Não sei mais o que eu sinto, se te amo ou se apenas finjo. Preciso de um tempo só pra mim, sem ter noticias sobre você. Preciso saber se é tudo ou nada.

sexta-feira, 5 de dezembro de 2008

Duas horas atrás



Segue reto e vira direita. Foi isso que ela me disse há duas horas e eu não consigo achar o maldito caminho. Já rodei tudo e parece que sempre saio no mesmo lugar. Por isso me sentei nesse banco de praça e aqui estou, analisando as opções. Nunca vi tantas ruas, avenidas, becos, estradas interligadas darem num mesmo lugar. Que bosta, o que eu faço? E o duro é que não passa ninguém por aqui, nem uma alma, nem sequer um vira-lata pra me fazer companhia. Antes ter ficado por lá, duas horas atrás.

Tenho vinte e três anos. Já morei numa porrada de lugares. Meu pai é representante, então nós vivíamos viajando, migrando. O foda de tudo isso era a escola, quase sempre me dava mal. As matérias mudam, os amigos não são os mesmos, você não tem mais aquela moral com as garotas. Dizem que o ser humano se acostuma facilmente com mudanças. Tenho lá minhas dúvidas, porque toda vez que tenho que mudar, seja o que for, me dá um medo filha da puta.

Não faço nem idéia do tempo que já passou, ou que horas são. Já apoiei os pés no banco, já sentei no encosto das costas e coloquei os pés no lugar de sentar, já liguei e desliguei o mp3 uma dezena de vezes, já perambulei pela praça e forcei os olhos tentando descobrir qual seria o fim de cada uma dessas possíveis escolhas. Deve ser o mal dos vinte e poucos anos, não sei o que fazer, não sei pra onde ir, não sei o que e a quem amar. Hoje eu quero muito ser astronauta, amanhã eu quero ser uma estrela do rock, e por vezes eu me pego pensando em porque eu não fiz medicina veterinária, ou educação física. Bem, seja lá o que for, vou tentar. Qualquer coisa eu volto no meio do caminho e tento de novo, ou não. Sei lá.

Ilustração: Radael Jr.

Catarse



No tempo que fiquei sem escrever estava produzindo esse curta-metragem. O roteiro é uma adaptação do conto "Apenas um Carro Quebrado a Distância", desse blog.

Elenco: Leonardo "Foca" Magalhães, Fernanda Bellumat e Artilio Netto

Direção: Ramon Rodrigues
Co-Direção: Fernanda Novaes
Produção e Roteiro: Artilio Netto (Teo Netto)
Assistente de Produção: Karla Cristina
Montagem: Ramon Rodrigues e Leonardo Magalhães

quarta-feira, 20 de agosto de 2008

O Pedido


Você me acordou e percebi na sua feição que havia algo a ser dito. Respondi sorrindo com o canto esquerdo dos lábios, você fechou os olhos. Havia algo estranho, uma sensação nunca vista preenchia todo o quarto como uma imensa fumaça de dúvidas, vontades e intenções. Percorri seu corpo com meus olhos em busca de perguntas sem respostas, mas você se encolheu aos poucos até se cobrir por completo. O silêncio era quase que completo, assim seria se não fossem nossas respirações. Seu cabelo caiu aos olhos e me tirou a visão completa do seu rosto. Deslizei minhas mãos por suas costas, acaricie seus cabelos.

Você virou o rosto de supetão e a luz que entrava pela fresta da janela refletiu nos seus olhos emitindo um brilho fantástico. Soprei seus cabelos até que eles mais escondessem seus olhos. Olhei fixadamente por um tempo. Uma frase me veio à boca, engoli a seco. Você percebeu. Envergonhei-me, devo ter ficado com as maças do rosto vermelhas. Senti que sua mão acariciava meu rosto. Era a hora, o exato momento. Eu sabia. Estávamos só eu e você, não tinha como não ser agora.

- Namora comigo?

Você sorriu uma risada dessas escancaradas, apaixonada, a qual eu não quero largar jamais.

sábado, 21 de junho de 2008

Honey


As luzes se apagam e você entra em cena, somos eu e você. Eu não consigo me controlar ao seu lado. Você me ascende e me envolve o tempo todo, as horas viram minutos e os minutos segundos. É uma loucura. Nós nos grudamos e eu já não consigo mais me desprender. Você me dá tanto tesão, vontades, desejos. Me faz explodir. Não sei muito bem o que acontece, é como se você ativasse todas as minhas reservas de energia. Eu nunca me canso, eu sempre quero mais, e mais. Me dê mais.


Gosto da forma que você me agarra e me prende entre suas pernas, enquanto crava as unhas nas minhas costas e desliza. Nem forte, nem fraco, preciso. Perfeito. Na medida certa. Seus olhos, sorrisos, tudo em você me excita. Gosto de te empurrar contra parede e sentir seu corpo junto ao meu. Seus suspiros, saindo como um sopro baixo e agudo me arrepiando dos pés a cabeça.


Eu quero você agora. Bem mais do que eu queria ontem. Toda hora, por todos os instantes, por quanto tempo for necessário. Me empresta você, seus olhos, sua cara de criança e esse seu sorriso largo e verdadeiro. Eu te dou permissão, me invada.

quinta-feira, 5 de junho de 2008

Departamento de Homicídio


Meu nome é Jack e esse lugar apertado, cheio de mesas, cadeiras e papéis é o meu local de trabalho. Eu sou detetive do departamento de homicídios, bem, pelo menos e isso que está assinalado na minha carteira de trabalho. As pessoas aqui não falam, gritam aos berros, correm, se esbarram, é uma confusão só, ninguém entende ninguém, são tantos nesse lugar, que muitos eu não sei nem o nome.


Essa pilha gigantesca de papel na minha mesa são os casos que eu tenho que resolver. Teria, mas não vou. Estou em greve funcional oculta. Só volto a trabalhar quando receber os meus cinco salários atrasados e quando trocarem esse monitor com essas malditas linhas, que ficam subindo a cada cinco segundos. Tá, eu confesso, eu contei os segundos, como eu não estou fazendo nada me sobra tempo de sobra pra observar em detalhes, coisas imperceptíveis que eu nunca perceberia se estivesse trabalhando. Na verdade, não estou em greve funcional oculta, estou em greve funcional oculta participativa. Eu venho ao trabalho todo o dia, bato o cartão, faço gestos de quem está trabalhando, mas não trabalho.


Aquele gordo sentado na mesa da esquerda, aquela perto da impressora matriz, ao lado da porta, é um cara que eu tenho certeza que quer me fuder. Se bobear quer me fuder, fuder a minha mulher, roubar os meus filhos e levar de bandeja meu opala oitenta e oito com seis canecos. O desgraçado vive me vigiando, observando cada detalhe, cada passo, tudo, tudinho mesmo. Gordo! Gordo, rosa e psicopata. Vive suando e com a respiração ofegante. Qualquer dia desses cai duro com um enfarte do coração. Espero que isso aconteça antes dele roubar minha mulher, meus filhos e meu opala oitenta e oito com seis canecos e som possante.

Mal sabe ele que o esquema já está toda armado e hoje ele roda, roda feito à bola gorda que ele é. Ta tudo aqui na minha cabeça, e os acessórios estão no carro. Vou fazer tudo sozinho porque a chance de alguém me dedurar é quase nula, a não ser que eu mesmo não agüente a tortura caso alguém descubra. Vou passar o gordinho, assar ele feito bacon na chapa, ai sim ele vai suar de verdade. Hoje ele vai dar uma volta no meu possante, a primeira e última.


- Fala doutor Euclides, como estão os casos?


- Todos em andamentos Jack. Mas pelo que eu estou vendo sua pilha aumenta cada dia mais.


- Ilusão de ótica meu chapa, ela está até uns centímetros menor. Mas me diz ai, abriu um chopperia na esquina daquela loja onde mataram aquela menina loirinha, do caso que você pegou, eu vou dar uma passada lá, um ou dois chopps no máximo, o que você acha?


- Você me convidando pra um chopp Jack? Vou até dar uma olhada no tempo pra ver tem algum meteoro vindo por ai.


- Que isso...afinal trabalhos juntos a quase cinco anos, você aqui nessa mesa, eu lá do outro lado, me diz que não tem hora que você se sente sufocado nesse ninho?


- Nossa e como! Acho que um ou dois chopps não me vão fazer mal algum, tá fechado.


Otário, caiu feito um pato.


Eu estava pronto, já sabia exatamente como seria. Estacionei o carro longe, e o mandei ir indo na frente, disse que ia ao banheiro. Ele sentou aquela bunda gorda no carona do meu carro. Faltava pouco. Liguei o som na rádio country, já sabia que ele gostava.


- Sabe Jack, por muito tempo achei que você era um otário. Sempre com essa cara fechada, praguejando todo mundo. Mas de um tempo pra cá tenho notado que você mudou pra caramba, parece estar mais maduro, consciente das coisas. Até olha com mais freqüência àquela foto de família que você coloca no terceiro plástico da esquerda pra direita na sua carteira de couro batido preta.


- Como você sabe aonde eu guardo essa porra rapaz?


- Eu sei muita coisa Jack, coisas que você nem imagina. Sei até que você tem um caso com a estagiaria do Mendonça, a coitadinha não deve ter chegado aos dezoito, né Jack?


- Filha da puta, a piranha abriu o bico!


- Ela não me falou nada Jack, eu sei. Sei até que você tem uma pá e um trinta e oito enferrujado no porta-malas desse opala oitenta e oito com seis canecos. Que pena que ele está no porta-malas não é Jack? Porque a minha amiga de ferro está bem aqui comigo, prontinha. Mas que pena Jack. Que pena que meu plano foi melhor que o seu.

sexta-feira, 9 de maio de 2008

Apenas um carro quebrado a distância


Era apenas um carro quebrado ao longe. Não tinha importância. A fumaça preta saia devagar e parecia estar dançando ao vento. Era lua cheia e fazia frio, muito frio. Eu o olhava cabisbaixo, sem vontade. Não tinha a menor importância aquele carro quebrado ao longe, mas me instigava. Meus olhos estavam vidrados, não conseguia mudar a direção. Que diabos eu me senti atraído por aquele maldito carro quebrado, batido, provavelmente capotado e quase se incendiando. Eu fazia força pra andar em sua direção, a sensação era de estar levantando mil quilos em cada perna.


Andei a passos lentos nessa estrada sombria e deserta. Ele me assombrava, mas eu não conseguia o evitar. Sentei abraçado aos joelhos por um tempo o qual eu não faço a mínima idéia. Observei. Havia um cheiro de podre no ar. Medo e angústia. Ainda sentado, chorei, e praguejei todos meus receios e vontades. Gritei aos berros todos os palavrões possíveis e desejei estar morto. Eu tinha que ir até lá, eu sentia.


A chuva começou em poucos pingos e logo o céu desabou sobre minha cabeça. Eu estava encharcado, e ali diante dele. Fui em direção à porta do carona, tudo estava amassado, quebrado, destruído. Assim como eu. O cheiro de podre me causava ânsias de vômito, mas eu não hesitava. Abri a porta aos solavancos e levei a mão ao rosto pra não sentir o odor. Um corpo estava debruçado sobre o volante, aparentemente um homem de meia idade. Ela também estava ali, como eu imaginava a encontrar, nesse maldito carro quebrado ao longe. A minha garota, que já não mais tinha vida, nem o sorriso que me encantava. Usava o cordão que eu havia lhe dado no nosso aniversário de namoro. O peguei. A chuva caia cada vez com mais força e junto a ela minhas lágrimas. Ajoelhei-me, e com o que me restava de força gritei desesperadamente de dor.

domingo, 6 de abril de 2008

Vermelho




Ela abriu a porta do carro, se sentou e acendeu um cigarro. O vestido era vermelho, decotado e bem curto. O cheiro de fumaça misturava-se ao perfume levemente adocicado que ela usava nesta noite. Se ajeitou no espelho retrovisor, segurou forte minha coxa e me deu um beijo desses de tirar o fôlego e me largou de supetão. Deu um trago longo no cigarro e atirou fumaça pela janela. Tirou o celular da bolsa, viu algumas mensagens, sorriu com o canto esquerdo da boca e o jogou no mesmo lugar. Mudou a estação de rádio pra uma que tocava músicas mais dançantes, cantarolava num inglês errado enquanto olhava despreocupada tudo a seu redor.

Os semáforos pareciam estar programados a fechar todas as vezes que passávamos. Eu estava tranqüilo, nada mais que um frio na barriga. Ela atirou o que sobrou do cigarro pela janela, não dando à mínima pra senhoras recalcadas paradas ao nosso lado num belo e conservado Corcel II. Fingi não me importar e segui adiante sem um destino específico. Estávamos apenas indo, sem saber pra onde. Acelerei forte numa reta pra sentir o vento com mais força, ela apenas fechou o vidro e passou a mão nos longos cabelos loiros.

Nenhuma palavra sequer, já estava agoniado e doido pra quebrar todo aquele silêncio. Ela não me olhava, parecia estar distante, pensativa, pouco se importando se continuaríamos a rodar por longas e intermináveis horas naquela madrugada. Vi um posto de gasolina a frente, encostei e fui até a loja de conveniência. Voltei com duas cervejas abertas e as coloquei no porta-copo. Ela acendeu outro cigarro, pegou uma garrafa e deu uma senhora golada.

- Você sabe que precisamos acabar com isso.

Ela fingiu não me ouvir.

- Luana esta situação já está mais que insuportável, eu já não sei mais o que fazer.

- O que você quer?

- Como assim o que eu quero? Você sabe que isso já foi pro buraco há muito tempo.

Ela tragava o cigarro pausadamente enquanto falava em tom sorrateiro, baixo.

- Me diz o que você quer, eu quero saber.

- Eu quero você, mas você sabe que não dá. Eu tenho uma filha, uma esposa.

- Então acabou, é isso?

- Infelizmente sim.

- Tudo bem Arnaldo, eu imaginei que seria assim, me leve pra casa.

Estranhei aquela atitude, pensava que ela entraria em pânico, gritaria ou sei lá quebraria alguma coisa, mas não, ficou ali parada, quase que estática sem dizer coisa alguma. Retomei a estrada, estava com um amargo na boca, pensando coisas do tipo, porra será mesmo que ela se importava e gostava de estar comigo, ou era apenas mais uma de suas aventuras.

Ela segurou na minha coxa, dessa vez sem muita empolgação, olhando na minha direção de forma que eu dividisse minha atenção entre seus olhos e a estrada. Percebi que uma lágrima descia naquele rosto angelical. Ela parecia estar querendo me dizer alguma coisa, havia um clima diferente, uma sensação estranha, uma tensão. Vi, como que em câmera lenta, sua mão indo em direção ao volante e o fazendo girar, ouvi o som dos pneus cantando, coisas saindo do lugar. Havia sangue, meu e dela, o carro girava forte os misturando, não sentia dor, mas sim medo. Medo de não ter vivido o suficiente e de não a ter deixado viver. Olhei em sua direção, ela sorria, mas não respirava.

ilustração: http://abeloverdrive.wordpress.com/

segunda-feira, 28 de janeiro de 2008

Enganos



Meus planos, meu mundo, meus vícios. Que faço meu e desejo. Minhas crianças, minhas memórias e lembranças. Meus discos, suas fotos, meus tão indesejáveis vícios. Meus poucos, meus anos, incontroláveis enganos. Sua dança, meu corpo, meus olhos, lembranças. Minhas fotos, suas cartas, minhas juras de amor. Minhas coisas, meus planos, meus tão inegáveis enganos.

Me pegue devagar e me tome pra você. Dilacere-me em pedaços e me guarde num lugar em que você não veja. Me afunde em meu vazio perplexo de suas incertezas.

Meus desejos, meus anos, meus tão fudidos planos. Seu mundo, meus olhos, meus vários enganos. Meus discos, seus vícios, minha forma correta de amar. Meu respeito, seus erros, seu medo de amar. Meus desejos, seu corpo, meus tão incontroláveis anseios. Meus muitos, meus erros, meus tão plausíveis acertos. Seus anos, meus planos, nossos tão incontroláveis enganos.

Me aperte e me sufoque. Tire-me a vida, me faça amar.

sexta-feira, 18 de janeiro de 2008

Enfim

Eu sai, desci pelas escadas e esbarrei numa lixeira ao passar pela porta. Do lado de fora eu observei. Os carros passavam, o vento sacudia as árvores, crianças sorriam e passeavam de mãos dadas com seus pais. Olhei pra cima e vi um sol mais do que brilhante e amarelo, nuvens brancas e macias que no momento era cortadas por um avião. Respirei fundo, fechei os olhos. Abri.

É...a vida continua, o mundo ainda está rodando.