sexta-feira, 19 de outubro de 2007

Irônico


Eu fui melhor que você. Querendo ou não eu sei que você tem uma raiva tremenda guardada em algum lugar do seu peito, ou tem uma foto minha colada na parede que você joga dardos todo dia de manhã antes de ir ao banheiro lavar o rosto. Eu fui melhor que você, assuma. Eu agi sorrateiro e na hora certa. Você é metódico demais, eu sou frio e calculista, planejo todas as minhas ações, mas sei ligar o foda-se e não dar tanta importância. Os seus anos de experiência e seu jeito padronizado de pensar no mundo não foram páreos para minha forma não convencional de viver a vida.

Pois é, essa minha cara de menino perdido, idiota, e esse meu jeito atrapalhado. Você não esperava que eu fosse ganhar. Assuma, você perdeu pra mim. Perdeu um prêmio que eu desfruto, saboreio. Eu vejo no seu olhar o quanto você queria estar no meu lugar. O seu discurso barato, perceptível, quase que tirado do wikipedia ou de livros de romance tipo Sabrina, não chegaram aos pés dos meus comentários idiotas, das minhas investidas certeiras, do meu jeito descontrolado, que pra você não passavam de atitudes e pensamentos infantis.

Chupe o dedo. Morra de inveja, deseje entrar no meu corpo. Observe minhas ações, aprenda comigo, eu não sou um ser abduzido de outro planeta e jogado aqui. Eu sou homem. Eu sei ser homem, sei falar a coisa certa na hora certa. Era pra você saber também. Moço letrado, pós-graduado, poliglota. Te faltou prática, banhos de chuva, colar na prova, jogar bola e estourar o tampão do dedo, ver desenho animado, ficar com calos no dedo polegar de tanto jogar videogame. Te faltaram futilidades necessárias, malandragem. Você é certinho demais. Eu não forço ser o que não sou. Assuma. Você perdeu pra mim, e nesse jogo você não pode resetar, reiniciar, começar de novo.







segunda-feira, 15 de outubro de 2007

Tragédia


Eu a esperava como de costume, sentado na cadeira de madeira com os pés apoiados na base da mesa. Goles em um uísque barato e alguns tragos de cigarros. Devagar, quase que imperceptível eu deslizava meu dedo indicador na borda do copo e prestava atenção nas conversas alheias.

O lugar era meio que um inferninho, luz fraca e amarelada, cadeiras e mesas de madeira estrategicamente posicionadas a sobrar um pequeno espaço, onde os garçons se esquivam pra passar. Ao fundo, copos mal lavados e amontoados dentro de uma fôrma de bolo que agora servia de escorredor. Garrafas de bebidas, muitas garrafas de bebidas faziam a decoração da parede de fundo.

O relógio tornou-se meu fiel companheiro desde que o casal de lésbicas havia ido embora da mesa ao lado, deixando-me extremamente curioso com a possível descoberta de uma nova forma de dar prazer à companheira. Passaram-se cerca de trinta ou quarenta minutos. O uísque desceu ao fundo e retornou ao topo novamente graças à agilidade de um dos garçons.

Eu contava carros pra ver se o tempo passava, foi divertido no começo, já estava no número cinqüenta e alguma coisa, quando um babaca parou na minha frente e eu perdi as contas, minha vontade era de matar aquele idiota, como que em apenas alguns segundos ele estraga toda minha contagem. Dois ou três cigarros apagados colocados perfeitamente na posição vertical, formando colunas. A fumaça dançava diante dos meus olhos, e depois de alguns goles o efeito que isso fazia era no mínimo psicodélico.

Uma ou duas horas depois. O dono do bar começa a descer as portas e os garçons a erguer as cadeiras. Apenas duas mesas ocupadas, eu sou o único não acompanhado. Ela está atrasada, eu já havia deduzido isso muito tempo atrás, mas estava insistente em esperar. Os carros já não passavam com tanta freqüência, já não havia muita coisa a fazer. Paguei algo pra beber pro morador de rua em troca de dez minutos de conversa. As demais mesas estavam todas com cadeiras penduradas de cabeça para baixo.

Um carro encosta do outro lado da rua. Parece ser o dela. Meu Deus, será que ela chegou ? Eu olho para um dos quadros da parede e fixo meu rosto naquela direção. Não quero que pareça que eu estava ansioso ou louco pra ela chegar. Viro o rosto em direção à rua e o coloco no lugar quase que no mesmo instante. Tinha alguém ligando o alarme, mas não deu pra ver quem era. Foda-se! Vou olhar, e ainda vou discutir com ela, isso mesmo, vou gritar e falar que isso é uma tremenda palhaçada. Onde já se viu, duas horas e meia de atraso. Sinto que alguém está chegando. Já não quero mais saber, eu estou puto da vida e vou rasgar o verbo agora. Uma sombra se projeta no chão, sinto uma mão tocar levemente no meu ombro apertando com firmeza antes de largar.

- Oi amor.
- Oi!
Ela me dirige um olhar profundo é a voz trêmula:
- Tenho que te contar uma coisa.
- Pode falar.
- É sobre sua mãe.
- O que tem a minha mãe? Fala.

Agora já não escutava nada com clareza, não conseguia enxergar direito, as poucas palavras que consegui distinguir entraram no meu ouvido numa rotação abaixo do normal.

- Ela não resistiu. Temos que ir.







quinta-feira, 11 de outubro de 2007

Conflitos


Levante desse chão e me enfrente. Não ferre tudo que você conseguiu se atirando nesse abismo incontrolável, chamado por muitos de dor. Eu sei tudo o que você passou e o que está passando. Por um minuto me escute, mas me escute de verdade, porra! Cansei de gastar o meu não tão extenso vocabulário, tentando aliviar todas as suas frustrações. Isso me deixa fudidamente agoniado.

Não desvie o olhar, somos eu e você. Você quer ou não ajuda? Pare de cantarolar essas melodias subliminares enquanto eu estiver falando. Por mais que pareça o fim do mundo, é melhor você estar nele, a desconectar sua alma por fatos que serão reconstituídos ao longo dos anos. Aceita, porra! Imagine que tudo seja feito em degraus, e você caiu alguns, mas pode subir novamente. Vamos, levante desse chão imundo e lave o rosto na pia. Você é melhor do que isso. Desembace o espelho e abra os olhos. Consegue ver? Este é Você. Este sou eu. Somos nós.

terça-feira, 9 de outubro de 2007

Desejos

Hoje eu to pra ouvir musica romântica e beijar por horas adentro de olhos fechados. Hoje eu quero brincar de passear minhas mãos entre suas curvas e sentir você. Quero eu e você, casa de praia, janela de madeira, vista pro mar. Quero cobertor, brisa, vinho e queijo. Quero te contar meus planos, ouvir os seus e torná-los nossos. Quero minha mão na sua nuca, entre os seus cabelos. Quero me ver no azul dos teus olhos. Quero você.