sexta-feira, 5 de dezembro de 2008

Duas horas atrás



Segue reto e vira direita. Foi isso que ela me disse há duas horas e eu não consigo achar o maldito caminho. Já rodei tudo e parece que sempre saio no mesmo lugar. Por isso me sentei nesse banco de praça e aqui estou, analisando as opções. Nunca vi tantas ruas, avenidas, becos, estradas interligadas darem num mesmo lugar. Que bosta, o que eu faço? E o duro é que não passa ninguém por aqui, nem uma alma, nem sequer um vira-lata pra me fazer companhia. Antes ter ficado por lá, duas horas atrás.

Tenho vinte e três anos. Já morei numa porrada de lugares. Meu pai é representante, então nós vivíamos viajando, migrando. O foda de tudo isso era a escola, quase sempre me dava mal. As matérias mudam, os amigos não são os mesmos, você não tem mais aquela moral com as garotas. Dizem que o ser humano se acostuma facilmente com mudanças. Tenho lá minhas dúvidas, porque toda vez que tenho que mudar, seja o que for, me dá um medo filha da puta.

Não faço nem idéia do tempo que já passou, ou que horas são. Já apoiei os pés no banco, já sentei no encosto das costas e coloquei os pés no lugar de sentar, já liguei e desliguei o mp3 uma dezena de vezes, já perambulei pela praça e forcei os olhos tentando descobrir qual seria o fim de cada uma dessas possíveis escolhas. Deve ser o mal dos vinte e poucos anos, não sei o que fazer, não sei pra onde ir, não sei o que e a quem amar. Hoje eu quero muito ser astronauta, amanhã eu quero ser uma estrela do rock, e por vezes eu me pego pensando em porque eu não fiz medicina veterinária, ou educação física. Bem, seja lá o que for, vou tentar. Qualquer coisa eu volto no meio do caminho e tento de novo, ou não. Sei lá.

Ilustração: Radael Jr.

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