sábado, 21 de junho de 2008

Honey


As luzes se apagam e você entra em cena, somos eu e você. Eu não consigo me controlar ao seu lado. Você me ascende e me envolve o tempo todo, as horas viram minutos e os minutos segundos. É uma loucura. Nós nos grudamos e eu já não consigo mais me desprender. Você me dá tanto tesão, vontades, desejos. Me faz explodir. Não sei muito bem o que acontece, é como se você ativasse todas as minhas reservas de energia. Eu nunca me canso, eu sempre quero mais, e mais. Me dê mais.


Gosto da forma que você me agarra e me prende entre suas pernas, enquanto crava as unhas nas minhas costas e desliza. Nem forte, nem fraco, preciso. Perfeito. Na medida certa. Seus olhos, sorrisos, tudo em você me excita. Gosto de te empurrar contra parede e sentir seu corpo junto ao meu. Seus suspiros, saindo como um sopro baixo e agudo me arrepiando dos pés a cabeça.


Eu quero você agora. Bem mais do que eu queria ontem. Toda hora, por todos os instantes, por quanto tempo for necessário. Me empresta você, seus olhos, sua cara de criança e esse seu sorriso largo e verdadeiro. Eu te dou permissão, me invada.

quinta-feira, 5 de junho de 2008

Departamento de Homicídio


Meu nome é Jack e esse lugar apertado, cheio de mesas, cadeiras e papéis é o meu local de trabalho. Eu sou detetive do departamento de homicídios, bem, pelo menos e isso que está assinalado na minha carteira de trabalho. As pessoas aqui não falam, gritam aos berros, correm, se esbarram, é uma confusão só, ninguém entende ninguém, são tantos nesse lugar, que muitos eu não sei nem o nome.


Essa pilha gigantesca de papel na minha mesa são os casos que eu tenho que resolver. Teria, mas não vou. Estou em greve funcional oculta. Só volto a trabalhar quando receber os meus cinco salários atrasados e quando trocarem esse monitor com essas malditas linhas, que ficam subindo a cada cinco segundos. Tá, eu confesso, eu contei os segundos, como eu não estou fazendo nada me sobra tempo de sobra pra observar em detalhes, coisas imperceptíveis que eu nunca perceberia se estivesse trabalhando. Na verdade, não estou em greve funcional oculta, estou em greve funcional oculta participativa. Eu venho ao trabalho todo o dia, bato o cartão, faço gestos de quem está trabalhando, mas não trabalho.


Aquele gordo sentado na mesa da esquerda, aquela perto da impressora matriz, ao lado da porta, é um cara que eu tenho certeza que quer me fuder. Se bobear quer me fuder, fuder a minha mulher, roubar os meus filhos e levar de bandeja meu opala oitenta e oito com seis canecos. O desgraçado vive me vigiando, observando cada detalhe, cada passo, tudo, tudinho mesmo. Gordo! Gordo, rosa e psicopata. Vive suando e com a respiração ofegante. Qualquer dia desses cai duro com um enfarte do coração. Espero que isso aconteça antes dele roubar minha mulher, meus filhos e meu opala oitenta e oito com seis canecos e som possante.

Mal sabe ele que o esquema já está toda armado e hoje ele roda, roda feito à bola gorda que ele é. Ta tudo aqui na minha cabeça, e os acessórios estão no carro. Vou fazer tudo sozinho porque a chance de alguém me dedurar é quase nula, a não ser que eu mesmo não agüente a tortura caso alguém descubra. Vou passar o gordinho, assar ele feito bacon na chapa, ai sim ele vai suar de verdade. Hoje ele vai dar uma volta no meu possante, a primeira e última.


- Fala doutor Euclides, como estão os casos?


- Todos em andamentos Jack. Mas pelo que eu estou vendo sua pilha aumenta cada dia mais.


- Ilusão de ótica meu chapa, ela está até uns centímetros menor. Mas me diz ai, abriu um chopperia na esquina daquela loja onde mataram aquela menina loirinha, do caso que você pegou, eu vou dar uma passada lá, um ou dois chopps no máximo, o que você acha?


- Você me convidando pra um chopp Jack? Vou até dar uma olhada no tempo pra ver tem algum meteoro vindo por ai.


- Que isso...afinal trabalhos juntos a quase cinco anos, você aqui nessa mesa, eu lá do outro lado, me diz que não tem hora que você se sente sufocado nesse ninho?


- Nossa e como! Acho que um ou dois chopps não me vão fazer mal algum, tá fechado.


Otário, caiu feito um pato.


Eu estava pronto, já sabia exatamente como seria. Estacionei o carro longe, e o mandei ir indo na frente, disse que ia ao banheiro. Ele sentou aquela bunda gorda no carona do meu carro. Faltava pouco. Liguei o som na rádio country, já sabia que ele gostava.


- Sabe Jack, por muito tempo achei que você era um otário. Sempre com essa cara fechada, praguejando todo mundo. Mas de um tempo pra cá tenho notado que você mudou pra caramba, parece estar mais maduro, consciente das coisas. Até olha com mais freqüência àquela foto de família que você coloca no terceiro plástico da esquerda pra direita na sua carteira de couro batido preta.


- Como você sabe aonde eu guardo essa porra rapaz?


- Eu sei muita coisa Jack, coisas que você nem imagina. Sei até que você tem um caso com a estagiaria do Mendonça, a coitadinha não deve ter chegado aos dezoito, né Jack?


- Filha da puta, a piranha abriu o bico!


- Ela não me falou nada Jack, eu sei. Sei até que você tem uma pá e um trinta e oito enferrujado no porta-malas desse opala oitenta e oito com seis canecos. Que pena que ele está no porta-malas não é Jack? Porque a minha amiga de ferro está bem aqui comigo, prontinha. Mas que pena Jack. Que pena que meu plano foi melhor que o seu.