segunda-feira, 15 de outubro de 2007

Tragédia


Eu a esperava como de costume, sentado na cadeira de madeira com os pés apoiados na base da mesa. Goles em um uísque barato e alguns tragos de cigarros. Devagar, quase que imperceptível eu deslizava meu dedo indicador na borda do copo e prestava atenção nas conversas alheias.

O lugar era meio que um inferninho, luz fraca e amarelada, cadeiras e mesas de madeira estrategicamente posicionadas a sobrar um pequeno espaço, onde os garçons se esquivam pra passar. Ao fundo, copos mal lavados e amontoados dentro de uma fôrma de bolo que agora servia de escorredor. Garrafas de bebidas, muitas garrafas de bebidas faziam a decoração da parede de fundo.

O relógio tornou-se meu fiel companheiro desde que o casal de lésbicas havia ido embora da mesa ao lado, deixando-me extremamente curioso com a possível descoberta de uma nova forma de dar prazer à companheira. Passaram-se cerca de trinta ou quarenta minutos. O uísque desceu ao fundo e retornou ao topo novamente graças à agilidade de um dos garçons.

Eu contava carros pra ver se o tempo passava, foi divertido no começo, já estava no número cinqüenta e alguma coisa, quando um babaca parou na minha frente e eu perdi as contas, minha vontade era de matar aquele idiota, como que em apenas alguns segundos ele estraga toda minha contagem. Dois ou três cigarros apagados colocados perfeitamente na posição vertical, formando colunas. A fumaça dançava diante dos meus olhos, e depois de alguns goles o efeito que isso fazia era no mínimo psicodélico.

Uma ou duas horas depois. O dono do bar começa a descer as portas e os garçons a erguer as cadeiras. Apenas duas mesas ocupadas, eu sou o único não acompanhado. Ela está atrasada, eu já havia deduzido isso muito tempo atrás, mas estava insistente em esperar. Os carros já não passavam com tanta freqüência, já não havia muita coisa a fazer. Paguei algo pra beber pro morador de rua em troca de dez minutos de conversa. As demais mesas estavam todas com cadeiras penduradas de cabeça para baixo.

Um carro encosta do outro lado da rua. Parece ser o dela. Meu Deus, será que ela chegou ? Eu olho para um dos quadros da parede e fixo meu rosto naquela direção. Não quero que pareça que eu estava ansioso ou louco pra ela chegar. Viro o rosto em direção à rua e o coloco no lugar quase que no mesmo instante. Tinha alguém ligando o alarme, mas não deu pra ver quem era. Foda-se! Vou olhar, e ainda vou discutir com ela, isso mesmo, vou gritar e falar que isso é uma tremenda palhaçada. Onde já se viu, duas horas e meia de atraso. Sinto que alguém está chegando. Já não quero mais saber, eu estou puto da vida e vou rasgar o verbo agora. Uma sombra se projeta no chão, sinto uma mão tocar levemente no meu ombro apertando com firmeza antes de largar.

- Oi amor.
- Oi!
Ela me dirige um olhar profundo é a voz trêmula:
- Tenho que te contar uma coisa.
- Pode falar.
- É sobre sua mãe.
- O que tem a minha mãe? Fala.

Agora já não escutava nada com clareza, não conseguia enxergar direito, as poucas palavras que consegui distinguir entraram no meu ouvido numa rotação abaixo do normal.

- Ela não resistiu. Temos que ir.







11 comentários:

Elisa Quadros e Valeria Semeraro disse...

a espera e o inesperado. cenas bem descritas, ritmo bacana.

beijo

Unknown disse...

huuuum... legal ^^.
beijooos preto!

Tudo ou nada ... disse...

Nossa ... vc anda se superando a cada dia. Gostei do texto, tudo muito bem colocado. Cheguei a imaginar a música de fundo rs.

Abraços

Anônimo disse...

Levei um susto sabia, nãos ei exatamente o que gosta de escrever, por isso não sabia seeraverdade ou não...mas agora ja sei...ufa!
rs
Belo belo....vo esperar o livro...rsrsrs

Mil beijos...Shiriu

Anônimo disse...

Mega emocionante, fiquei agradando o final e fui surpreendida! Q delícia ler isso, instigante demais. Muito bom mesmo, e realmente, não dá pra saber se é real ou não!

Ludmila Prado disse...

nossa como assim?
que final surpreendente, nunca iria imaginar.
texto bom, adoro textos que descrevem as coisas e os lugares, da a sessanção de estarmos ali


bjo

gritos tormentos e pesadelos disse...

caraca bixo..
totalmente perfeito...vc escolheu o lugar certo pra fazer o curta...
o Bino...perfeito

Anônimo disse...

puxa k texto maravilhoso,no principio
nao tava a entender do k se tratava


mui miu bom

Anônimo disse...

primeiro dia k entro neste site
é mto maravilhoso
adorei mesmo.
vc é um genero

Anônimo disse...

acreditam k so moçambicana?e esto em Africa
ca neste momento sao 14h da tarde,
adorei entrar neste site.
vcs ai tem bons autores

teo netto disse...

De Moçambique? bacana ver que o texto pode ser lido por qualquer pessoa e em qualquer lugar.

Um abraço!