terça-feira, 28 de agosto de 2007

Nada

Hoje eu tirei o dia pra lembrar de você. Revirei todos aqueles papeis que você escrevia e insistia em guardar junto com os meus, vi as fotos que sobraram ao incêndio causado propositalmente por mim, lembrei das cenas boas, dos dias de chuva, do jeito que você ria de tudo, da forma que pensava ser a melhor do mundo. Lembrei do cheiro daquela gororoba que você fazia com café e biscoito de maizena no copo de requeijão e eu implorava sempre por mais um pouco. É hoje eu realmente lembrei de você.

Dessa vez sem propósito algum, sem sorriso, sem lágrimas, sem porra nenhuma, mas lembrei, retrocedi, voltei no tempo. Vi em trechos o dia em que eu cuidei de você no hospital e seu nariz cheirava a podre, a sangue pisado, há um pouco de muita coisa ruim. Lembrei de ter te dado comida na boca e tentado fazer você acreditar ser a mulher mais linda do mundo mesmo com todos aqueles curativos absurdamente encharcados de sangue enfiados em suas narinas.

Muita coisa se perdeu, e eu não sinto absolutamente nada. Não quero coisa alguma com isso, pra falar a verdade não estou interessado se você vai ou não ler o que está escrito, mas sinceridade e algo que sempre corre em minhas veias e hoje eu realmente lembrei de você. Não quero saber por onde você anda, quem são seus novos amigos, quem é o seu novo amor, eu definitivamente não tenho intenção nenhuma. Agora entendo perfeitamente quando você dizia que quando o tempo passa, coisas que pareciam ser extremamente importantes tornam-se normais, até menos que normais, acho que é a sensação é de algo parecido com ver alguém que você não conhece no ônibus, piada sem graça, refrigerante sem gás ou sexo sem tesão.
Eu não preciso guardar mais nada, nem papéis, nem fotos, nem vídeos, nem porra nenhuma. Já não faz diferença, já não tem mais propósito. Antes isso me causava uma sensação horrível, algo tipo como ser o verme do cocô do cavalo do bandido, mas agora é tudo tão inferior ao neutro, é tudo tão...nada.

quinta-feira, 16 de agosto de 2007

Mudanças

O tempo passa, as coisas mudam, o que foi dito, escrito, lido, toma sempre um novo rumo, que pode servir facilmente para novas ocasiões e deixar de ter veracidade em muitas outras. Não que eu mude facilmente de opinião, mas prefiro ser um tanto quão maleável a ser um burro empacado na ponte. Imagine que chato seria o mundo se tudo fosse a mesma coisa todos os dias, receber o mesmo bom dia da mesma pessoa, da mesma forma, andar pelos mesmos lugares, sentir os mesmos aromas, os mesmos sabores, tudo igual, todos os dias. Eu realmente prefiro que tudo mude, que o mundo gire, que as teorias caiam, que o certo vire errado, e o contrário também, não tenho vergonha, e até prefiro dizer que pensava de uma maneira e agora acho que é tudo totalmente diferente. Confuso? Porque não? Eu quero é ter dúvidas, aflições, ansiedades, perturbações, eu acho que é assim é que se cresce, assim é que se vive.