Era apenas um carro quebrado ao longe. Não tinha importância. A fumaça preta saia devagar e parecia estar dançando ao vento. Era lua cheia e fazia frio, muito frio. Eu o olhava cabisbaixo, sem vontade. Não tinha a menor importância aquele carro quebrado ao longe, mas me instigava. Meus olhos estavam vidrados, não conseguia mudar a direção. Que diabos eu me senti atraído por aquele maldito carro quebrado, batido, provavelmente capotado e quase se incendiando. Eu fazia força pra andar em sua direção, a sensação era de estar levantando mil quilos em cada perna.
Andei a passos lentos nessa estrada sombria e deserta. Ele me assombrava, mas eu não conseguia o evitar. Sentei abraçado aos joelhos por um tempo o qual eu não faço a mínima idéia. Observei. Havia um cheiro de podre no ar. Medo e angústia. Ainda sentado, chorei, e praguejei todos meus receios e vontades. Gritei aos berros todos os palavrões possíveis e desejei estar morto. Eu tinha que ir até lá, eu sentia.
A chuva começou em poucos pingos e logo o céu desabou sobre minha cabeça. Eu estava encharcado, e ali diante dele. Fui em direção à porta do carona, tudo estava amassado, quebrado, destruído. Assim como eu. O cheiro de podre me causava ânsias de vômito, mas eu não hesitava. Abri a porta aos solavancos e levei a mão ao rosto pra não sentir o odor. Um corpo estava debruçado sobre o volante, aparentemente um homem de meia idade. Ela também estava ali, como eu imaginava a encontrar, nesse maldito carro quebrado ao longe. A minha garota, que já não mais tinha vida, nem o sorriso que me encantava. Usava o cordão que eu havia lhe dado no nosso aniversário de namoro. O peguei. A chuva caia cada vez com mais força e junto a ela minhas lágrimas. Ajoelhei-me, e com o que me restava de força gritei desesperadamente de dor.
15 comentários:
Nossa .... este texto é muito forte. Tentei vivencia-lo, imagina-lo, mas é forte demais para mim.
Abraços
ps: seja muito bem vindo de volta
Muito bacana viu!!! agora que esta historia deveria cpntinuar .... Pode ter certeza ta muito bacana !!!
poxa cara..eu gostei muito do texto..carregado, agonizante e extremo...ainda mais ouvindo a música do Marylin Manson que vc me mando....parabéns cara
Muito denso o texto de uma dor quase visivel...expressiva e verdadeira!
Passo novamente pra saber o fim da história...se é que existe!
Gostei muito do que li por aqui!
Bjussssss
Muito denso o texto de uma dor quase visivel...expressiva e verdadeira!
Passo novamente pra saber o fim da história...se é que existe!
Gostei muito do que li por aqui!
Bjussssss
Você demora para atualizar seu blog mas quando faz isso não deixa nada a desejar!
Tem um bailar com as descrições! (...) Me fez entrar na cena muitas vezes!
ótimo!
Uouuu...
Faço minhas palavras a do meu Caro Luciano...
Caramba... senti-me bem e mal..
Mas gostei. Parabéns Teo!
Cinematográfico!
Vc me deve uma caixa de lenço! Snif! Snif!
Cinematográfico! (2)
Nossa.. que texto triste...bonito, mas triste :) Tentei me imaginar na situação, maas ah, desisti...hehehe meus olhos enchem de lágrima só de pensar... !!
beeijoo!
carros e tragédias...bons temas que rendem bons textos.
e todos, totalmente filmáveis :)
beijo, chuchu
Expressivo!
Na vida muitas vezes tentamos nos enganar, sabemos de certas coisas mas as evitamos a fim de não causar uma dor previsível.
Estou montando uma revista em formato digital para ser distribuída via e-mail em pdf. Será que me autorizaria a ultilizar algum texto que já tenha postado aqui?
Se quiser conversar, me mande um e-mail: jotafagner@gmail.com
Que bom vc ter voltado. Sempre venho aqui para ver as novidades... ela demorou, mas chegou muito bem escrita e densa. Nossa... fiquei sem palavras.
Bjos.
Postar um comentário